27/03/2011

Caminhando por entre trilhas

Oies e olás pessoas.

Há algum tempo, eu queria escrever um livro.
O nome dele seria Caminhando por entre Trilhas.
Não sei se já existe algum com esse nome, mas, enfim, esse era o nome que queria prá ele.
A capa, seria um desenho, meio que aquarelado de uma trilha que vi uma vez.
Era uma trilha estreita, cercada por árvores. A noite iluminada pelas estrelas e por uma lua cheia.
A imagem, se pudesse, teria o som de um riacho que passava próximo.

Ele começaria da seguinte forma:
"Ele, tomou-a pela mão e, com sua voz grave disse: Você aceita Deus, nosso Senhor, e Jesus, seu único Filho, como seus salvadores e redentores?
 E ela, diante de uma multidão, responde: Sim!
 Ele, novamente pergunta: Você renuncia a toda obra do Demônio, suas formas e tentações?
 Ela, envergonhada com o silêncio que se fez, responde: Sim!"

Esse livro, nunca saiu da minha cabeça.
Meio que apareceu escrito dentro dela já.
Eu que nunca tive a audácia de colocá-lo no papel.

Enfim...
Hoje, parando prá analisar... Assim foi minha vida... Um enorme caminho por entre trilhas.
Sempre achei a Highway muito sem graça, muito normal, muito sem sentido.
Não dá tempo de parar e de observar um ninho de pássaros ou de sentar à beira da sombra de uma Gameleira. Não há tempo prá apanhar a fruta madura no pé prá saciar a fome e nem de beber água a beira de um riacho límpido.
Não há flores... Mas também, não há espinhos.
Na Highway, não há volta. É sempre em frente.
A beleza da Highway, é feita de asfalto. A paisagem, muitas vezes, é puro concreto.
Sempre quando estou viajando e preciso tomar alguma BR da vida, sempre que tenho tempo prá isso, tento passar por alguns desvios, tento tomar algumas estradinhas de chão, sem saber ao certo o que me espera pela frente.
Posso dizer que, raramente me arrependo.
Já enfrentei lama, caminhos bloqueados...
Já tive que engatar a marcha ré por ter dado de cara com a porteira de alguma fazenda e, nessas ocasiões, caio no riso, imaginando o Urtigão e seu velho companheiro, Cão.
Em certa ocasião, o sol não havia nascido há muito tempo, em uma dessas aventuras, me deparei com um pé de tangerina carregadinho de frutas maduras. Não tive dúvidas! Parei e "roubei" algumas, sem me importar que o mundo iria saber que comi as tais tangerinas. Ora... Elas estavam frias, molhadas pelo orvalho ainda... E eu, com a fome dos que saem da balada direto pro trabalho.

E assim, sigo meus caminhos.
Tento me afastar das Highways, tento me afastar do tumulto.
Tudo o que quero é uma cabana de pedras e madeira, no meio do nada, na beira de um riacho e, não muito longe de uma cachoeira. Um fogão a lenha... Quem sabe, um chimarrão prá acompanhar o nascer do sol ou, quem sabe, um vinho, prá embalar as noites estreladas.

Quem sabe seriam esses desejos velhos resquícios de outras vidas, outras épocas, ou... Simples devaneios de quem viveu na cidade por toda uma vida enquanto desejava viver no campo... Quem sabe?

Lembro da minha infância.
Meu pai tinha um sitio e íamos todos os finais de semana prá lá.
Chegávamos no sábado pela manhã e íamos embora, não sem protestos, a hora que Os Trapalhões invadiam a telinha da TV.
Aos domingos, meu pai se levantava junto com o sol e, ia à estribaria, com um caneco em punho e um pouco de café com açúcar. Lá, o caseiro do sítio, colocava leite fresco, direto da teta da vaca no caneco e meu pai voltava com o Camargo prá me acordar e dar bom dia.
Eu, por minha vez, sempre gulosa, tomava tudo e ia no ranchinho que tínhamos guardado milho, debulhava algumas espigas e rumava pro galinheiro.
Alimentava as galinhas e, em troca, pegava alguns ovos. E, com aquilo, minha mãe fazia ovos quentes pro café da manhã.

Era uma época boa.
Eu era realmente feliz nesses finais de semana.
A simplicidade de tudo, era algo incrível!
As verduras, vindas direto da horta, eram um prato cheio... Mesmo prás crianças como eu.
De sobremesa? Frutas!! Novamente, colhidas ali, no pé!
Brincávamos de Guru-Guru com as sementes de laranjas, de frutas do conde, de tangerinas...
Tomávamos leite fresco batido com amoras silvestres.
Andávamos à cavalo, de trator, de tobata, de charrete...
Aliás... Andar de tobata sempre foi um problema.
A filha do caseiro e eu, sempre íamos sentadas na pontinha da caçamba do tobata prá levar o trato pro gado confinado. Aquele trato entrava nas nossas calças e, passávamos a semana com a bunda coçando. Mas, valia a pena só pelo prazer de sentirmos nossas pequenas botas Sete Léguas mal alcançarem o chão e as pedras que estavam nele.

Era feliz aquele tempo.
No inverno, passávamos uma parte do sábado recolhendo algumas pinhas e galhos que caíam, naturalmente, das árvores, prá acender o fogão a lenha e esquentar a casa inteira durante a noite.
E quando um morcego acertava a entrada prá nossa casa?
Era um tal de correr atrás do pobre coitado com a vassoura...
Juro que não tinha medo deles... Meu problema com morcegos, é que eles sempre gostavam de "embaraçar" a crina da minha égua, uma Manga Larga Marchador, que eu chamava de Pampa e que foi minha fiel companheira por muitos anos.
Eu, montada nela, meu pai, montado no Negão e, nosso caseiro, o Seu Antônio, montado no Badur ou no Alazão, cruzávamos pelo pasto afora, numa aventura sem fim aos meus olhos de criança. Os cavalos tinham que pular valas e nós, tínhamos que nos equilibrar em cima deles. Eles corriam conosco em seus lombos e, a boiada, corria à nossa frente.
Dias de inocência, onde eu ainda sonhava em ser veterinária e, em ter uma banda de música.
Sonhos que se perderam ao longo dos anos... Com o duro choque da realidade... Mas que, ainda acalentam meu coração e meu espírito.

Talvez esse seja o motivo de, apesar de ter nascido em meio a confortos, ainda assim, eu decida levar uma vida simples.
Quando meu pai disse que venderia o sítio (ou fazenda, como pretenciosamente, chamávamos), me fiz de forte e não esbocei nenhuma reação. Principalmente por acreditar que, se o bem era dele (apesar de levar meu nome), era era quem deveria decidir o que fazer com ele e não eu.
Mas, até hoje, me lembro dos pés de morango, das laranjeiras, do cheiro do orvalho logo cedo, do sino da Capela de São Brás... Me lembro da ovelha que amamentamos na mamadeira e que respondia pelo nome de Ruth (por causa de uma novela que passava, Mulheres de Areia - A mesma do Tonho da Lua).
A Ruth, era irmã gêmea da Raquel. Como a Ruth foi rejeitada pela mãe, cuidávamos dela, dando comida na mamadeira até que pudesse comer sozinha pasto a fora. O que não a impedia de atender, mesmo assim, pelo nome que demos.
Lembro de nossa cadela, Linda. Um doce prá quem era "de casa" mas, prá estranhos, nem tanto. Ela dormia na nossa porta aos finais de semana, nos guardando do que quer que fosse. Seu filho, Bola de Neve, um cachorro todo preto, com apenas uma bolinha branca na ponta do rabo, como se um floco de neve houvesse caído ali, fazia dupla com ela e guardava a janela que meu pai, costumava abrir de madrugada, quando acordava e ia fumar um cigarro.
Na época, meus pais fumavam Minister. E eu os incentivava (e era absolutamente chata com eles) a parar de fumar. Quando o Minister saiu de linha, eles passaram a fumar Marlboro e eu, fumava Free escondida. Pouco depois que eles descobriram, passaram a fumar Marlboro Light... E eu, também. Depois disso, minha mãe simplesmente parou de fumar. Olhou prá carteira de cigarros, disse: "Não fumo mais" e parou! E nós, meu pai e eu, continuamos...

Assim foi a minha vida.
Encontros e desencontros com o desconhecido.
Até hoje, choro sozinha e escondida a venda do meu pequeno santuário, do nosso sítio, da Fazenda Zeina.
Sinto saudades daquele lugar. Tanta que, sempre que posso, dou uma passada por lá prá ver como estão as coisas e, por um segundo, volto ao passado ao ver que tudo está exatamente como deixamos.
As mesmas laranjeiras, as mesmas jabuticabeiras... Tudo continua lá... Como sempre foi. Só esperando que, um dia, eu volte prá dizer um simples "oies e olás".

Enfim...
Acho que estou meio melancólica hoje...
Mas, no fundo, só quero isso... Um pouco de simplicidade, uma trilha prá eu caminhar em meio a Highway da minha vida.

Beijokinhas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Cura, Auto Conhecimento e Bem-Estar

Oies e Olás pessoas Estou apaixonada! Pêndulos, Tarot, Pedras, Plantas, Óleos Essenciais, Benzimentos... Tudo isso tem feito parte da minha ...